quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Ausência



A ausência não tem fim. A ausência é como tudo.

A ausência pode ser boa ou má, a ausência de uma coisa boa não obriga que seja negativo nem a ausência de uma coisa má implica que seja bom. Pode levar-nos até onde quisermos e deixarmos... para a saudade, sonhar, surpreender, superar, segurança ou para o egoísmo, solidão, tristeza e insegurança.

A ausência é amarga, a ausência é angústia... a ausência testa-nos. Faz-nos sentir desamparados, pequeninos e perdidos. Pergunta-nos " E agora?" e espera que o fraco de nós dê de si, enquanto olha ao longe com um sorriso de quem sabe que vai ganhar. A ausência faz de nós a criança que fica sozinha em casa pela primeira vez, que não dá parte de fraca aos pais, escondendo o pânico por dentro, ouvindo os sons que não foram sons e vendo as sombras que ninguém projectou. Porque a casa está vazia, e a ausência ocupa-se dela. É assim que funciona a ausência, vem do vazio, ocupa os vazios em nós.

A ausência lembra-nos do que não podemos esquecer, é o lembrete do nosso sofisticado sistema do inconsciente para o nosso básico e falível consciente. Faz-nos ver que a presença tem que ser valorizada e aproveitada. A ausência ensina-nos sobre o que realmente precisamos, e certifica-se que estamos certos acerca do que gostamos. Dá-nos a oportunidade de pensar e sentir, para que consigamos que a presença seja tão boa que a ausência que se segue é quase uma oportunidade, indesejada provavelmente, contrariada talvez, mas uma oportunidade, para a presença.

Sim e não, a ausência é como tudo, a ausência não tem fim, é o que deixarmos que seja, é o que fizermos que seja em nós... se a prendermos e trancarmos, rastejará pela nossa casa ao som de miséria e tristeza, se a libertarmos, voará pela janela fora, voltando de vez em quando para nos lembrar que existe.

Como todos os equilíbrios, também este é difícil de encontrar, mas talvez seja como andar de bicicleta... encontrar o equilíbrio, apanhar o jeito, e já não se esquece.


Sem comentários:

Enviar um comentário